quinta-feira, 15 de julho de 2010

Madrugada

Agora é noite e a cidade dorme, quase toda cidade dorme. Aqueles que amam de fato a vida estão acordados agora. Estamos nos bares, pelas ruas, esquinas, praças... Estamos vivos. Somos os boêmios que, bêbados, cantam e recitam suas poesias. Somos as mulheres que jamais se contentam com a rotina ridícula que o dia nos proporciona.
Queremos o silêncio noturno que afaga e acolhe aqueles que sabem amar e odiar com a mesma intensidade sem medo do que todos os outros vão pensar. Somos as verdades sem máscaras que vagam tranquilas pelas sombras da madrugada. Estamos nos pesadelos de vocês fieis receosos que temem os prazeres mais ocultos de suas pobres vidas. Somos todos os desejos profundos que explicitamos e, assim, nos fazemos gozar sem parar.
Todos os sonhos estão em nós, está na escuridão, está no íntimo de cada um que saí além do pôr do sol para seguir o brilho da lua cheia e a sombra desta quando nova. É a vida manchada de negro pela noite que torna o prazer cada vez maior e a excitação da carne um fato. Quero a noite eterna para não mais dormir, o calor das sensíveis mulheres noturnas e o segredo que está em não haver mistério.
(Por: Marcelo Araujo)

Fim do dia

O fim do dia se aproxima e penso que nada mudou, parece-me que nada muda.
Tentei respirar outros ares, conhecer outros lugares, transformar tudo, mas não deu! Passei por ruas diferentes, bares desconhecidos, vielas que pareciam não mais ter fim. E sempre a sensação de não deslocar-me um milímetro sequer. São locais frios, com as mesmas cores estanques e de vida fugaz.
Conheci os mais diversos tipos de pessoas, todas iguais. Dos mais puritanos aos mais pervertidos seres que conheci, todos baseiam suas vidas de forma igual, em busca de uma falsa moral de felicidade. São as mesmas angústias e frustrações, os mesmos pecados e virtudes, os mesmos anseios infantis que jamais deveriam ter saido do âmbito onírico para tornar-se planos de vida.
O fim do dia se aproxima e nada mudou, nunca muda, nunca mudará.
(Por: Marcelo Araujo)

2012

Estamos separados:
O mundo e eu,
tudo que restou do tempo.
Fim da esperança,
intervalo vazio.
Somos criaturas sem forma
Pura essência,
sem sentido; sem razão.
Suposta existência:
Universo
(Por: Marcelo Araujo)